TESTEMUNHA EM TRÂNSITO
De Taxi Driver ao Táxi do Gugu, a figura do "chofer de praça" já faz parte da cultura moderna. De um ponto de vista romantizado, o motorista é o observador do cotidiano, o elemento neutro a quem se pode revelar até os segredos mais cabeludos.
"As pessoas acham que nunca mais vão me ver e acabam falando coisas que talvez não tivessem coragem de contar para ninguém", concorda o taxista Eloir José, 29 anos, ele mesmo testemunha de inúmeras histórias improváveis.
Quantos de seu colegas já não disseram que um dia escreveriam um livro? Pois Eloir colocou a mão na massa e, há quatro anos, começou a anotar todas as passagens interessantes de sua rotina ao volante. Vários cadernos depois, o motorista reuniu o material e, no fim do ano passado, viu suas memórias ganharem as ruas.
Com o título de Meu Táxi Não Fala... Ah, Se Falasse!, o livro traz 40 histórias curtas narradas na primeira pessoa. Há desde encontros com celebridades a flagrantes de infidelidade, passando por perigos, viagens interestaduais e exemplos de generosidade. Também não faltam relatos de propostas indecentes para o motorista, todas devidamente recusadas. "Algumas eu topei, mas essas só vão entrar no segundo livro", confessa.
Sim, o taxista garante que tem anotações suficientes para outros dois volumes semelhantes. Mas, por enquanto, quer fazer circular a tiragem de mil cópias do primeiro, que bancou do próprio bolso. "Cheguei a negociar com quatro editoras. Só que eu sempre saía em desvantagem nos contratos", conta.
Disponível em algumas livrarias da cidade, Meu Táxi Não Fala... também é oferecido, ao preço de R$ 20, para os passageiros que embarcam em seu carro. Segundo Eloir, cerca de 200 exemplares já foram vendidos "em trânsito" - uma média de oito por dia.
Escrever é um hobby, mas também quero ganhar dinheiro com isso", planeja. O motorista, no entanto, não se vê longe do volante. "Acho que nunca vou deixar de trabalhar com táxi. É dele que surgem todas as minhas histórias".
O livro de sua vida? "Não sei o nome do autor, mas é Perigos no Mar. Já li umas três vezes", revela Eloir, citando um dos títulos juvenis da série Vaga-Lume, da editora Ática, escrito por Aristides Fraga Lima.
por OMAR GODOY
com foto de LETÍCIA MOREIRA
janeiro de 2009
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